Eduardo M. R.
Colégio Catarinense, Florianópolis (SC), JUKU Köln

"As traduções entre línguas são uma tarefa complicada. Talvez seja por causa das particularidades e nuances de cada idioma. Quando comecei meus estudos de alemão, foram essas particularidades que me atraíram, a beleza pessoal de cada língua. Um ano após iniciar meus aprofundamentos na língua de Goethe, fui agraciado com a oportunidade de passar três semanas em seu país também. À vista disso, tentarei, nestas breves linhas, traduzir em palavras algo, decerto, mais difícil que um idioma: o que significou esta experiência para mim.
Creio que só fiquei em plena consciência do que se passava quando adentrei o avião. O misto de ansiedade e entusiasmo me tomaram por inteiro. Questionei-me como seria: será que aprenderei alemão? Como serão as pessoas lá? De onde serão os outros bolsistas?
Meu receio foi diminuindo aos poucos, à medida que me aproximava do destino. Lembrei então que me disseram uma vez que “uma língua estrangeira só se aprende indo pro front, no campo de batalha”. Decidi que iria a guerra, com minhas limitadas armas, determinado a ganhá-la.
Após onze longas horas, chegamos a Frankfurt. Todavia, nos faltava ainda uma conexão a Colônia, nosso destino e casa pelas próximas três semanas. Foi lá, no Aeroporto de Frankfurt, que veio nossa primeira “lição-prática”: nosso voo fora cancelado! E nós, nove brasileiros, sozinhos num dos maiores aeroportos da Europa.
Fomos postos à prova em nossas primeiras horas naquele país e, diga-se de passagem, nós saímos muito bem… negociamos um trem direto a Colônia. Chegamos, por fim, ao Albergue da Juventude, nossa casa por um tempo.
O primeiro fato que me chamou atenção em nosso local do curso foi a diversidade. Seria uma legítima Torre de Babel, não fosse o objetivo totalmente inverso: a união linguística. A língua de Goethe era nosso ponto congruente. Tantas histórias, religiões, costume contados em alemão. Aliás, com a quantidade de pessoas que conheci, acho um egoísmo muito grande chamá-la apenas de “língua de Goethe”, com todo respeito ao poeta, é claro. Estava mais para nós como uma língua franca, universal. Entre nós, não falávamos e aprendíamos alemão, vivíamos alemão.
Quanto ao acadêmico, além da oportunidade de conhecer a Universität zu Köln, tínhamos aulas diárias que muito contribuíram para o meu aprendizado. Minha professora, Sarah, tenho orgulho de dizer, ensinou muito além de outro idioma. Tive as clássicas aulas, mas creio que aprender com um falante nativo é diferente… ainda sim, a professora relacionava o conteúdo com o mundo, mostrando que o aprendido não era uma caixinha fechada. Por causa de Sarah falamos com refugiados, visitamos de forma exclusiva um bunker, fomos a uma das mais importantes mesquitas da Alemanha, experiências únicas. Sarah foi para mim uma professora da vida.
Sobre a cidade: seria um pecado não dedicar um parágrafo sequer a Colônia, ou Kölle para os íntimos. Criei uma relação única com ela. Era de beleza enorme sair da estação principal e estar bem a sua frente, lá, plantado, o gigantesco Kölner Dom, a catedral da cidade. Arrepiei-me repetidas vezes com essa mesma cena. A cidade cativou-me profundamente com seus monumentos, museus, entretenimento e, claro, seu jeito peculiar de falar alemão, o “kölsche” - dialeto próprio da região.
O JuKu deixou marcas muito fundas. Um gosto doce, uma sede de retornar. Sou eternamente grato a todos que possibilitaram esse fenômeno em minha vida. Obrigado a minha mãe, meu pai e minha família de forma geral. Obrigado à Elaine, por toda a fé depositada em mim e por tornar isso possível. E obrigado aos meus novos amigos e ao Goethe Institut, por tornar tudo possível.
Espero ter chegado perto de descrever as dimensões que esse mês remexeu em minha vida, apesar da dificuldade de “traduzir” esses sentimentos. Aliás, de todas as introduções que vivi, aprendi que a mais complexa de todas elas se chama “saudade”."


