Durante os meses de Novembro e Dezembro, estudantes brasileiros, juntamente com estudantes da Universidade de Göttingen, participaram do seminário “Lernvideos in internationalen Teams”, onde tiveram a possibilidade de produzir vídeo-aulas a respeito de diferentes temas. Tais vídeos foram desenvolvidos em alemão e tinham como público-alvo alunos brasileiros de escolas PASCH. Além disso, durante o seminário, os participantes puderam não só aprofundar seus conhecimentos em mídias digitais, como também trabalhar em grupos com pessoas de diversas partes do mundo. Entre os participantes estão Mariana Quadrada e Ana Clara Neves, estudantes de Letras (Português/Alemão) da Universidade de São Paulo. Fizemos uma entrevista com as duas e elas nos contaram um pouco sobre suas impressões em relação ao seminário e o que aprenderam.
Por que você optou por participar do Seminário “Lernvideos”?
Ana Clara: "Para ser bem honesta, quando recebi o convite não pensei duas vezes, não participar nem passou pela minha cabeça, e diria que isso se deve à riqueza da oportunidade de trabalhar com pessoas diferentes, de uma universidade na Alemanha que também estavam estudando DaF; de ter uma experiência como esta ainda na Graduação; e de usar o alemão em um contexto diferente e muito mais desafiador."
Mariana:"Achei que o seminário seria uma ótima oportunidade de me aprimorar na área do ensino de alemão, não apenas em relação a conteúdos linguísticos, mas também na minha formação com tecnologias e mídias digitais, que ao meu ver, falta na nossa formação básica como professores no Brasil atualmente."
Você já possuía experiência com edição de vídeos antes do seminário?
Ana Clara:"Não possuía experiência alguma com edição de vídeos antes do seminário. Tinha alguma noção do que a edição de um vídeo poderia exigir porque meu pai trabalha com Video Editing e Motion graphics, e porque, durante a pandemia, gravei podcasts e conteúdos musicais que fizeram parte de vídeos, o que me trouxeram alguma experiência sobre o assunto, mas não propriamente com a edição em si."
Mariana:"Muito pouca, só sabia fazer coisas muito simples, ou já tinha ouvido falar de como fazê-las. O seminário me ensinou muito, mas tenho a sensação de que ainda preciso praticar mais, e que me levaria muito tempo produzir todo o conteúdo sozinha."
Quais critérios você e seu grupo utilizaram para a escolha do tema do vídeo?
Ana Clara:"Achei que a escolha dos temas, de modo geral, foi um tanto aleatória no Seminário. Todos nós, tirando as pessoas que sugeriram o tema – como a Isabel que trabalhou com Zivilcourage e já tinha uma espécie de projeto pensado para isso; ou a Minye que queria trabalhar com o tema comida; ou o Rizky, com o tema Freizeit –, acabamos escolhendo as opções que surgiram por outros colegas. Como não tínhamos muito tempo, eu não tinha uma ideia para sugerir de qual tema eu gostaria de trabalhar, escolhi entre as opções dos colegas e me juntei com os que trabalhariam com Freizeit: Rizky e Xiyan."
Mariana:"Não foi muito difícil escolher um tema. Acho que todos nós concordamos que o vídeo seria uma oportunidade dos alunos terem algum tipo de conteúdo extra, algo que geralmente não teriam em sala de aula. Pensando em temas atuais que poderiam interessá-los, escolhemos sustentabilidade, especialmente por ser um assunto muito discutido na Alemanha e ter grande importância na formação e sensibilização dos jovens. Claro que por ser muito amplo, foi um pouco difícil delimitar a abordagem e produzir algo coerente, além de incluir mais explicitamente um conteúdo de língua, no nosso caso, verbos modais."
Como foi a experiência de trabalhar com pessoas de diferentes nacionalidades?
Ana Clara:"Eu gostei muito da experiência de trabalhar com pessoas de diferentes nacionalidades. Meu grupo era o único com pessoas para as quais o alemão não era língua materna, e isso foi muito interessante, porque todos procuramos por palavras, procuramos ser o mais claros e práticos possível, ou seja, estávamos na mesma, mas com bagagens, origens e conhecimentos diferentes."
Mariana:"Foi muito interessante! Na primeira rodada de apresentações, já decidimos fazer o grupo juntos. Pelo formato online, senti falta de ter mais contato com os outros participantes do seminário, e gostaria de ter tido mais tempo livre para conhecer os colegas. Acho que sinto falta daquela pausa pro cafézinho nesses eventos online. Parece que não dá pra conhecer muito as pessoas, fica “só” o conteúdo, e quem mais fala acaba sendo o professor, é muito menos interação. Talvez mesmo online, se tivéssemos mais tempo para o Seminário teria sido possível. É muito proveitoso ter contato com outras pessoas que querem dar aula de alemão, mas que têm uma formação e uma vivência com a língua muito diferente da nossa. São experiências muito complementares, com pessoas que estão em uma idade parecida e ainda na faculdade, como eu."
Acredita que o fato de os integrantes do grupo não possuírem a mesma língua materna tenha atrapalhado a comunicação em alguns momentos?
Ana Clara:"Não acho que atrapalhou, e sim trouxe desafios – acredito que para todos nós. No começo precisei de um tempo para entender o fluxo, as pessoas, a proposta em si, mas com o tempo as questões iam se resolvendo. Nesse começo, eu e minhas amigas brasileiras que também estavam no projeto, conversávamos para tirar as dúvidas e esclarecer o que não estava tão claro ainda. Minha rotina é muito diversa e cheia de coisas, e senti que nessas condições de comunicação você precisa ter (ou se dar) tempo para escrever e formular com calma o que quer dizer ao seu grupo e resolver as tarefas, porque esses momentos levam mais do que levariam na sua língua materna. Gostei muito do desafio, de aprender com o como os outros dizem, como eu vou e quero dizer algo, como posso e como quero dizer algo e os efeitos dessa comunicação."
Mariana: "Acho que pela maioria dos brasileiros já ter um nível alto de alemão, a língua não foi uma barreira muito grande. Mais complicado foi o fuso-horário e conciliar horários para nos encontrarmos em meio a outras ocupações e atividades."
O seminário procurou incluir nos encontros tanto discussões teóricas quanto atividades mais práticas. Você acredita que isso tenha sido importante para a elaboração dos vídeos?
Ana Clara:"Sem dúvida! O contato com o digital e o por trás dos conteúdos produzidos deixou de ser intuitivo e passou a ser mais consciente em relação a tudo que pode e deve ser levado em conta para a produção de um “Lernvideo”, como podemos avaliar outras produções e, para completar, como podemos implementá-lo em aula. Para esse último aspecto, preparar uma Unterrichtssequenz foi e ainda será essencial para o “fechamento do ciclo” – a aplicação dessa aula em março em uma escola PASCH."
Mariana: "A maior dificuldade do Seminário foi o tempo curto. Por isso, a produção do vídeo foi muito corrida, e etc. E também a parte teórica foi bem intensa, mas tenho certeza de que foi muito importante. Eu, particularmente, me interesso muito pela formação em mídias digitais de professores de alemão, então a parte teórica foi um complemento muito rico. Os aspectos teóricos foram muito positivos para produzirmos o vídeo com “mais propriedade”, com mais respaldo, de quais objetivos podemos ter, vantagens e desvantagens de usar esse tipo de mídia em aula e também como utilizá-la de maneira mais eficaz, como entendê-la como ferramenta para alcançar determinado objetivo de aprendizado."
Sua visão sobre o ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira mudou após a participação no seminário? Por quê?
Ana Clara:"Que pergunta boa! Eu acho que para mim sim. Não sei se diria que mudou, mas com certeza me sensibilizou mais, principalmente no que diz respeito às possíveis dificuldades e facilidades de comunicação, formas de como trabalhar em grupos mistos (de nível, nacionalidades) e possíveis atividades."
Mariana:"Eu diria que mudou em partes, em relação a apresentar novas perspectivas. O trabalho com vídeos é muito frutífero, mas ao mesmo tempo exige bastante tempo e capacitação técnica só professor. Trabalhar com os alunos de Göttingen, futuros professores alemães, também me fez refletir bastante. Para ser professor, claro que o domínio da língua alvo é imprescindível, mas vejo que a experiência como aprendiz também é muito relevante para se identificar com os alunos, saber exatamente pelo que eles estão passando para entender como ajudá-los. Além disso, o olhar do estrangeiro para uma nova língua e a compreensão dela é muito diferente de um falante que a tenha como língua materna. Há sempre prós e contras em todas as situações, e o seminário me fez refletir a respeito desses aspectos."
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